Ver mulheres a impor-se em qualquer campo, é sempre motivo para qualquer sociedade vangloriar-se numa época em que a emancipação é palavra de ordem. No rap não foge a regra e o movimento Hip Hop angolano sempre teve mulheres ousadas, aquelas que em tempos de preconceitos extremos desafiaram tudo e todos, usaram calças largas, colocaram mochilas nas costas e meteram-se a andar a pé até ao Elinga ou Feira Ngoma para fazerem freestyles e rompimentos no meio do que poderia se considerar um mar de homens.
Ora, pelo que a minha memória me permite lembrar, desde que se “instituíram” os lançamentos e vendas de CD´s antes na portaria da RNA, depois no Cine Atlântico e agora no Parque da Independência, apenas duas rappers ousaram lançar e vender os seus CD´s. Tratam-se concretamente de Donna Kelly e Marita Vênus. Depois de passar àquela geração de rappers ou de terem dado um black out, muitos de nós pensávamos que o rap feito no feminino estava extinto mas eis que surgem outras tantas meninas que apesar dos pesares vão de forma insistente e firme colocando as suas pedras para a construção dos alicerces deste movimentos cuja obra nunca termina. A Eva RapDiva é uma destas meninas que surgiu, criou o seu espaço e vai se impondo. Se calhar de forma um pouco apressada para um mercado que acabava de a receber, chegou, mostrou o que valia com freestyles que afinal é o que melhor e mais a identifica, rapidamente ganhou o seu público e criou o seu reino. Confesso que fui dos que ficaram cépticos quando ela anunciou o lançamento do seu primeiro álbum/Mixtape, não por falta de crença no trabalho dela e sim por achar rápido demais para isso e que apesar do crescimento quase vertiginoso precisava de mais algum tempo. Como que para desafiar ou contrariar isso, Eva juntou pontos, traçou linhas e partiu para a conquista do seu propósito e juntou a Mad Tapes, nada mais e nada menos do que a Label de maior sucesso na história do Rap angolano. Ousado como é também o seu C.E.O, Luís Queirós, ou se quisermos DJ Samurai, decidiu colocar a autora de “Rainha Ginga do Rap” a vender ao lado daquele que é um dos mais populares rappers da lusofonia da actualidade, o também chamado REI da Linha de Sintra NGA, com o álbum KING. E a EVA vendeu. O seu público esteve lá e os amantes de RAP voltaram não só ao Parque mas também a casa da Juventude para comprar um CD de Rap feito por uma mulher. Neste fim de semana NGA e EVA vão estar em Benguela para venda e sessão de autógrafos.
Quanto a obra em si, o nosso primeiro reparo vai para uma certa repetição dos temas/conteúdos nalgumas músicas, de resto, o álbum esta com boa qualidade sonora, conteúdo aprovado, com participações vocais e de produção relevantes, onde cinco das catorze músicas foram escritas pela RapDiva e noutras contou com ajuda de outros compositores. Como sugestão da nossa parte ficam as músicas “Mais Perto Do Meu Sonho” e “Bons Velhos Tempos” que contam com os excelentes coros de Tamin e Condutor e Pier Slow respectivamente.
Mais palavras? Encontrem-nas no álbum/mixtape da Eva que ela já disse tudo, aliás, a atitude em si, a CORAGEM, OUSADIA e PERSISTÊNCIA dela merecem uma SALVA de PALMAS, deixemos o orgulho e curvemo-nos.
Menos RAP e mais HIP HOP
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