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16 de abril de 2013

Nanizaiawo Morgan entrevista Girinha || Leia Agora e saiba mais sobre a trajetória da rainha do rap angolano

O que te vem a cabeça quando vês as iniciais MC? Com certeza pensas em Mestre-de-cerimónias. Ela usa as iniciais e adaptou-as a si, ser MC pra ela é ser uma Mulher de Coragem. Para uns é a melhor Rapper do país e para outros é simplesmente uma das melhores. Certeza mesmo é que ela é uma das mais antigas MC´s do Movimento Hip Hop nacional e com 15 anos de carreira mantém-se firme até hoje. Continua a fazer o RAP que lhe apetece com amor e com alma e por isso hoje está no “SPACE”. Ela “É MEMO”…

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  • Quem é a Girinha?

Uma GUERREIRA

  • É assim que te defines?

Na verdade eu tenho o estranho pensamento de que quando as pessoas se definem se limitam. Eu sou humana, as únicas certezas que tenho são: A Mudança e a Morte. Muito do que era ontem, hoje já não sou. Agora imagina tu se me definir?

  • Podes pelo menos definir a rapper e não a pessoa?

Estou na batalha faz muitos anos. Nesses anos todos fui uma mutante no Rap, me descobri, me superei e me surpreendi. Como Rapper me tenho explorado bastante e extraído de mim mais diversidade e há quem já me tenha chamado underground, comercial, etc… mas tenho preferido fazer o que me apetece. Foi nas ruas que me tornei Mc, na Mong. Comecei como todo Mc começa, freestyles e o sonho de levar aquilo pra rádio. Era miúda e hoje sou mulher, muitos dizem-me (MC) Mestre de Cerimonia mas hoje me sinto mais (MC) Mulher de Coragem.

  • Quando e em que circunstância é que entra para o RAP?

Fins de 98, uns amigos falaram comigo, disseram que eu tinha o perfil que procuravam para o grupo deles. E assim criamos a Rown Squad com o Tuly Mong, Kadaff, Obbie, B Weiser e Guardilha. Foi com esses 5 rapazes que conheci o Rap.

  • Numa sociedade altamente conservadora e numa época que era ainda pior, o que a incentivou a aceitar o convite deles?

Eu já ouvia rap, já tinha paixão pelo estilo, fez parte da minha adolescência.

  • Onde foi buscar forças para enfrentar o mundo num estilo que já não era bem aceite nem mesmo para os homens?

Na altura era uma rebelde (risos), adolescente, o rap era um escape, uma forma de expressar a minha rebeldia. Confesso. Mas o amor que dediquei ao que fazia me deu forças pra seguir adiante.

  • Quais são os problemas que teve que enfrentar em casa, na escola ou mesmo na rua com os próprios rappers?

 Na altura que comecei a dropar tava a concluir o médio. Não tive problemas na escola, em casa a princípio a minha mãe se opôs porque pensou que me afetaria como pessoa, mas acabou por ceder. Quanto aos rappers (tirando o pessoal do meu grupo), a princípio travei uma batalha para provar o meu valor. E acredito que eles só perceberam para o que vim quando saí com o som "Cabeça Vazia (A resposta)".

  • Qual a situação mais absurda que viveu naquela época?

Não me vem nenhuma a cabeça agora. Lembro só que saiamos da Mong até a Feira Ngoma a pé e voltávamos da mesma forma já a noitinha. E lembro também na altura da musica “cabeça vazia” que tentaram me agredir hahaha

  • Entra no RAP numa época em que havia meninas como a Donna Kelly, Afrodith e outras. Qual a influência que qualquer uma delas teve em ti?

Quando entrei elas estavam lá, felizmente havia espaço pra mim também. Respeito-lhes hoje como fiz quando comecei a dropar. Nunca competi com elas porque percebi logo de primeira que por ser um estilo em que os homens eram a maioria, precisávamos partilhar o espacinho que nos cabia. Elas me influenciaram na atitude, na garra, a mascarar o medo de coragem. Com elas aprendi o que nenhum homem saberia me ensinar, pegar a armadura e o escudo e ir pra batalha da forma mais feminina que pudesse.

  • O que era ou é mais difícil, ser rapper ou ser rapper no meio de homens?

Acho que ser rapper. Ser mulher é de certa forma um diferencial. Quando parei de ver os homens como empecilho comecei a ser mais aceite e respeitada no meio. Ser rapper não é fácil e é isso que lhe torna ainda mais interessante. Ter que provar constantemente que sou boa naquilo que faço e gosto, é cansativo mas é um cansaço bom. Durmo feliz.

  • Conte-nos como é que era o RAP e o Movimento Hip Hop naquele tempo… 

Creio que naquele tempo o Rap se fazia sentir mais, nos festivais, nas ruas, nas rádios. Não que agora não faça, acho que temos levado muito a sério isso dos "beefs" e feito menos pela cultura, pelo movimento. Antes havia a união e isso fazia o Rap crescer (como numa família unida), agora tá muito mais para se provar quem é melhor que o outro e acabamos por cair na mesmice. Antes o movimento “Hip-Hop” existia, os Grafiters, os DJ´s, os BreakDancers... Agora tem muito mais RAP. O valor dos outros elementos se perdeu um pouco na minha humilde opinião.

  • Ficou muito tempo fora dos palcos e do movimento em si, só voltamos a ouvi-la na Mixtape No Dia D e na Hora H e depois no FUBA. Porquê esta ausência?

Estive no Brasil, em São Paulo. A fazer um curso Superior. Aproveitei esse tempo para ter aulas de canto e teoria musical, no conservatório “Souza Lima”. E fiz uma participação numa música do Rapper brasileiro “Afro X” (Todos olhos em Mim)

  • Que avaliação faz ao nível da concorrência (positiva) feminina de quando começou e do que tem hoje?

Acho positivo que haja concorrência. As comparações são inevitáveis. Há gente que gosta do meu trabalho e há gente que prefere outra MC. A concorrência quando saudável é uma mais-valia pro movimento. Quando comecei havia excelentes MC´s, assim como agora. Acho que a concorrência continua no mesmo nível, teve um tempo que teve nula mas agora voltou a estar nota 10 e espero que continue.

  • Tens sido procurada por jovens rappers para beber da tua experiência?

 Sim tenho. Mas muitos da "New School" pensam que sou nova também. Já me chamaram pra entrar num projecto da New School e num de novos talentos.

  • Durante esses anos todos, o que podemos encontrar no mercado como fruto desta experiência, em termos de Mixtapes e/ou álbuns?

Tenho um single, lançado em 2005 e tenho participações em mixtapes como Poetizas, No Dia D na hora H, Deus da Guerra. Participei no Fuba, entrei no novo álbum da minha Produtora e agora vou participar no Não Pego Leve (Remix) e trabalhar no meu álbum ainda sem data prevista pra sair e se Deus quiser teremos muito mais.

  • Conte-nos a história por detrás da música “SOU MEMO”

A música “Sou Memo” foi uma clara declaração de amor ao meu namorado. E uma forma de dizer para os jovens da banda que o amor existe e o dinheiro importa mas não é tudo, que é preciso amar sem sentir o bolso primeiro. Que é bom ter alguém pra lutar juntos para o que der, tive e vier. No Brasil, eu e o meu damo já vivemos no gueto, hoje vivemos melhor e ambos lutamos para melhorar as nossas vidas. Isso é amor, dinheiro é só um acessório. Quis mostrar que é possível, que mulher é a que tá na back do broto e vice-versa. O Pão Deus proverá.

  • Então és mesmo a dama q vai ao club mesmo sabendo que o homem não tem dinheiro pra pagar a conta?

 Yeahhhh... vamos correr os dois hahahaha

  • Que sacrifícios é que farias pelo teu “Wi”?

Todos que estiverem ao meu alcance.

  • Qual tem sido o retorno que recebe das pessoas sobre esta música? É o que esperavas?

Recebo de volta uma energia muito positiva. Pessoas a postarem frases da música pra dedicar aos seus amados. Foi uma musica muito sincera por isso as pessoas acreditaram.

  • Era isso que esperavas quando gravaste a música?

 Sim era. Que pessoas que sentissem o que sinto se identificassem. Pessoas que ainda acreditam num amor que pode tudo. Como quando oiço "is this love" do Bob Marley, acredito naquele tipo de amor que pode tudo.

  • Bob Marley faz parte das tuas influências?

Bob Marley... Me influenciou mais como pessoa do que como artista. Apesar de ser associado a drogas, suas músicas têm mensagens tão boas, tão inteligentes, tão positivas. Com certeza influenciou na formação do meu carácter e personalidade. Foi meu conselheiro desde sempre.

  • E quem faz ou fez parte das tuas influências como artista?

Black Company, Lauryn Hill, 2 PAC e muitos outros mas esses que citei me fizeram CANTAR.

  • Acredita se eu dizer que com esta música conquistou novos seguidores?

Com o Sou Memo? Serio? Fico feliz se ganhei mais guerreiros. É pra isso que tenho trabalhado e é bom quando as pessoas dão esse feedback... Obrigado MEMO

  • É esta a Girinha que teremos daqui pra frente ou ainda teremos surpresas? Falo em termos de escrita, Flow…

 Como disse Raul Seixas: "Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo" … Vou me deixando mudar, vou me deixando evoluir. Escrevo melhor que ontem e com certeza pior que amanhã... Espero vos surpreender sempre. Acho que as surpresas vão continuar.

  • Depois de assumir que “És memo”, o que vem a seguir? Pra quando?

Bem logo a seguir saiu o álbum da Galaxia. Agora vamos vender o álbum do Tafinha e pra Maio, Agosto e tal são shows. Mas com certeza que durante esse periodo vão saindo outras cenas...

  • Que avaliação faz do conteúdo das mixtapes e álbuns que saem no nosso mercado?

Olha decidir o que é bom ou mau cabe a cada um... Eu acho que há muita cena boa no mercado, não sou muito Juíza. Acho que tem muita cena boa a sair, cada um para o seu tipo de público.

  • Não se tratando de decidir sobre o trabalho dos outros, acha que na generalidade os rappers têm trazido o que deviam?

Acho que julgar um rapper como um todo é matar o Rap. Há vários estilos de rap e há rappers para cada estilo. Se todos rappers fossem Mc K seria mesmice. Cada faz melhor o que sabe e o que vive. O que deviam? Cada um traz o seu Ritmo, a sua Arte e a sua Poesia.

  • Quer dizer que de uma forma geral te sentes satisfeita com o RAP que é feito?

 Me sinto satisfeita com o rap que tenho feito e com o Rap que tenho ouvido.

  • Sente-se no conteúdo das músicas de alguns rappers uma certa banalização das mulheres. Isso não te preocupa?

Preocupa. As mulheres que morreram naquela fabrica no dia 8 de Março devem revirar-se nos túmulos (risos). Mas se isso não existir como é que se fará a diferença?

  • Foi com base nisso que decidiu fazer a resposta da música “Cabeça Vazia”?

Decidi fazer a música pelos homens que banalizam as mulheres. Numa altura em que ligava o rádio e só ouvia que a Mulher não valia nada. Não sei como é que certos homens conseguem olhar no olho das mães e irmãs.

  • Teremos no seu trabalho alguma música a falar disso? Com certeza. Porque acha que isso acontece?

Há mulheres que se desvalorizam, assim como homens. E muitas vezes o resto sofre as consequências.

  • Respondendo a esses rappers não teme que isso a traga beefs? Não tem medo de beefar com homens?

Apesar de parecer não gosto de beefs. Mas temer para que, se nasci pra morrer? Temo a Deus só.

  • Já esteve envolvida em quantos beefs na sua carreira?

Muita gente interpretou a Resposta de Cabeça Vazia como um beef mas não foi. Nunca me envolvi em beefs. Ha gente que faz beef mas não faz comigo porque não participo, faz sozinho.

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  • Fale da sua entrada para a Galáxia.

 Foi em Outubro se não estou em erro, quando fui falar com o Tafinha para que ele produzisse um som meu. Mas nos demos logo bem e o mesmo aconteceu com todo pessoal da produtora. Curti a energia positiva e o espirito de irmandade deles. Quando o Tafinha me convida para fazer parte daquilo, para entrar para família, aceitei... E hoje estou no Space

  • É este o passo que faltava para dar o Boom na sua carreira?

Quando voltei para Angola, estava meio perdida e com sede. Este foi o passo para eu voltar, o Boom ainda tá a ser trabalhado. Mas estou no lugar certo e cheia de força de vontade.

  • Como é q é trabalhar com o Tafinha que é considerado um dos melhores produtores nacionais?

O Tafinha é uma pessoa excelente, do tipo em extinção. Como produtor, além de ser único, criativo e eterno aprendiz, respeita o que fui e quer fazer parte do que ainda serei. É simplesmente uma honra para mim trabalhar com ele.

  • É considerada por muitos como a Rainha do RAP angolano. Acha que merece este título?

Um jeito de certa forma carinhoso de muita gente me definir. Se mereço? Acho que as pessoas que assim me chamam podem dizer-te, eu acredito apenas no meu potencial e valor e acho que mereço vencer. Se não for arrogância dizer isso.

  • Consideremos a Girinha como sendo apenas uma rapper ou é mesmo alguém que vive a Cultura HIP HOP?

Confesso que já vivi mais. Hoje vivo mais o elemento Rap. Mas não pretendo continuar assim, voltarei a entrar mais na Cultura.

  • 10 rappers lusófonos que nunca deixas de ouvir…

Boss AC, CFK, DJi Tafinha, Extremo Signo, Kadaff, Abdiel, Nga, KB Max, Fly Skuad, Matafrakus

  • 5 rappers nacionais que nunca ouves…

 Xe hahah essa não quero ya, Vão me interpretar mal.

  • Uma mensagem para os rappers…

Menos guerra mais cultura...

  • Para os fãs...

Obrigado por tarem na linha de frente. “GUERREIROS MEMO...”

  • E como é moda os rappers falarem em haters, deixe também uma msg para os teus…

Apesar de achar que muita gente que é chamado hater, apenas querem dizer a verdade... Pros odiadores, vocês são motivadores. "Me Chama de Livia, haters pra Turquia"

  • Para os bloggers...

 Sem o vosso trabalho e apoio, essa missão seria impossível. Obrigado.

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3 comentários:

  1. Anónimo23:33

    Yeah Girinha na house,gostei da entrevista,aprendi muito com essa entrevista,é pena n ter ouvido a Girinha desde o inicio,axo q também era um feto kkkkk,vou xtar sempre a par e passo ao q ela faz,sou uma fã,me inspiro nela,pela parte de levar o Rap femenino para o alge,também gosto de Rap e estou a entrar na cena mas com gara e determinação,espero deixar um legado,e o mais importante fazer o q gosto sem esperar aplausos só desejo tudo de bom para a Giri e que continue a ser a rapper lendaria,que ainda tem muito pela frente.bjs da Jockrs

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  2. Anónimo01:42

    Adorei ;)

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  3. Yeah man, entrevista saudável, deu até pra recordar aquela Girinha que sempre nos habituou a sentir as cenas dela do jeito dela.
    Está bem patente que só pela entrevista, ela evouluiu muito, e ainda bem que ela quer ser a "Metamorfose Ambulante (Raul seixas)...
    Entre outras, só tenho a que lhe desejar força, coragem e que ela tem soldados na Back que reconhecem a sua persistencia e história.

    ass. SKILL Beezy
    Face page: https://www.facebook.com/pages/SKILL-B/362798983815305?ref=hl

    Fuiiiiiiiiiiiiiiiii

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